8 de abril de 2012

A História, os Vampiros, o meio ambiente e coisas esquecidas.

Lendo livros do RPG (Role-playing game) Vampiro: a Máscara, me deparo constantemente com diversos cenários históricos que são reconstruídos através da ótica vampírica, mas não deixam de contar coisas que realmente aconteceram, envolvendo personalidades marcantes e acontecimentos que não queremos mais lembrar ou insistimos erroneamente em fazê-lo.

Os Tzimisce, ou Demônios, são os mais horrendos vampiros do jogo, pois transformam a pele das pessoas a seu bel-prazer.

Na trama do jogo tudo ganha um tom mais sombrio, sujo e corrupto, ou será que é assim mesmo na vida real? Essa questão percorre meus pensamentos desde jovem e cada vez mais dou atenção ao trechos do livro que abordam a História. É interessante notar como os autores do jogo ficcional introduzem seu mundo no passado que existiu, sem deixá-los sem sentido. Vejamos como eles misturam o clã de vampiros Tzimisce ao mundo da URSS. Trecho retirado do Livro do Clã.

"O Legado Comunista
O Ocidente sempre soube que o Comunismo teve pouca consideração pelos interesses ambientais1, mas o alcance completo deste conhecimento não veio a luz até depois da queda da Cortina de Ferro. A URSS transformou a Bulgária, a Romênia, a Checoslováquia, a Polônia2 e a Alemanha Oriental em pilhas tóxicas. Agora as fábricas cospem enxofre no ar, criando chuva ácida tão potente que priva florestas inteiras de sua folhagem e galhos. Tudo que resta de algumas florestas são varas negras  e montanhas cobertas de névoa sulfúrica. As operações de minar e fundir lançam nuvens de partículas metálicas no ar, afligindo gerações de crianças com uma ampla variedade de doenças pulmonares e inaptidões mentais. Mesmo depois de tudo isso, está muito pior na Romênia, onde a extração de carvão deixa o ar negro graças a Usina de Carvão de Copsa Mica3. Uma grossa camada de fuligem cobre edifícios e árvores, criando uma paisagem destituída de cores. Neva flocos negros durante a noite, partículas de carbono saturam a névoa e as nuvens, manchando todo o céu, e até os carneiros são da cor da noite."
Copsa Mica
"Os ambientalistas denunciam a poluição, mas todos os governos agem muito lentamente. Ambos Tzimisce do Velho Mundo e anciões do Sabá4 encontram suas paisagens antes ricas e orgulhosas se afogando em opressão física e psicológica. O ditador Nicolae Ceausescu5 manteve seu povo fraco e pobre enquanto saqueava o interior em nome da indústria. Agora, ironicamente, a defesa Tzimisce muda, se apenas pela poluição que mancha seus rebanhos6 com câncer e envenenamento, enquanto a chuva ácida destrói a sua partilha de monumentos, incluindo muitas antigas fortalezas nos Cárpatos que os Demônios ainda habitam. O Velho Mundo se esmigalha, literalmente."

Copsa Mica

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Não apenas o Comunismo feriu o meio ambiente, claro. Temos que analisar que naquele período -ou na maior parte dele- as questões ambientais não eram levantadas -não como são hoje- em nenhum lugar do mundo. Porém as marcas deixadas pelo Comunismo foram muito intensas e devidamente lembradas aqui. Alguns autores, como David Drew, escrevem sobre a visão de Marx e outros pensadores sobre o meio ambiente. Eles destacam que o pensamento comunista de apropriação dos recursos naturais como bens para a sociedade legitimam a ação intensa e irracional que os governos do regime exerceram sob seus mandatos.

2 Alguma coisa sobre a luta constante da floresta polonesa de Bialowieza você pode ver em posts feitos no ano passado através dos seguinte links: Wlodek 1 e Wlodek 2. Para mais detalhes, brilhantes detalhes, procure o livro Paisagem e Memória, de Simon Schama.

A cidade de Copsa Mica ficou conhecida como uma das cidades mais poluídas da Europa, e mesmo hoje, décadas após o fechamento de sua usina de carvão, as árvores, casas e carros continuam com a fuligem preta impregnada. A população da cidade caiu para 23% da população que a mesma possuía na década de 80 e a expectativa de vida no local é de 9 anos abaixo da expectativa romena. Outras regiões da antiga URSS sofrem com o pouco preparo e com o tremendo descaso que o governo comunista possuía, crianças bielorrussas até hoje nascem com problemas de saúde graves devido a radiação emitida da Usina de Chernobyl, em Pripyat, Ucrânia.

Organização-seita da qual os Tzimisce fazem parte, em sua maioria.

5 Líder Comunista Romeno entre 1965-1989 (quando morreu executado).

6 Mortais que servem de alimento constante.

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No jogo, a família de vampiros Tzimisce possuem o temido poder de moldar a carne, os ossos, os músculos... Enfim, eles são como escultores de corpos humanos e geralmente a visão de beleza deles é extremamente contestada. Esses poderosos vampiros cuidam de seus rebanhos e os personalizam da forma que bem entendem. A ideia desse poder sobrenatural que foi legado aos Tzimisce pode muito bem ter sido baseado nas graves deformações e mutações ocorridas com desastres e irresponsabilidades industriais. O jogo trás base histórica bem feita que aliada a uma compreensão maior de mundo por parte dos jogadores pode oferecer caminhos e sugestões para deixar o jogo mais interessante e profundo, seja através da perda de dinheiro recuperando mansões nos Cárpatos ou algo mais elaborado que possa passar pela cura ou agravamento das doenças daquela sociedade.

Crianças vítimas da radiação da Usina de Chernobyl, as que não apresentarem modificações na aparência, possivelmente sofrerão de câncer.
Enquanto a população de Copsa Nica parece viver bem e os efeitos da poluição aparentam diminuir, a terra ainda precisará de muito tempo para se recuperar. E desculpe minha senhora... Mas eu não comeria esse milho ai atrás não. 

Mais fotos de Copsa Mica? Clique aqui e aqui.
Um poste mais detalhado sobre Chernobyl virá em breve!

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