15 de maio de 2011

A história de Włodek - parte 02

Então, muitos devem ter acompanhado um pedaço da História de Wlodek aqui, e viram que fiquei me perguntando como era o rosto desse intrigante personagem que faz parte da nossa história, pois então, bastou apenas procurar um pouco mais até descobrir isso: 

Esse simpático senhor é Włodzimierz Pirożnikow (1920-2008), ou conhecido por mim até então como Włodek (Wlodek). O guia da Floresta de Białowieża, um caçador e um grande contador de histórias, assim ele podia ser definido, mas Wlodek era mais que isso.

A casa em que Wlodek viveu durante sua permanência em Bialowieza
Wlodek morou durante muito tempo em Zwierzyniec, no meio da floresta primitiva de Bialowieza, na fronteira da Polônia com a Bielorrussia, lar dos bisões europeus (ou bisões lituanos). Filho de uma latifundiária e de um marinheiro do Império Russo, Wlodek nasceu no mesmo ano que minha vó materna, pouco depois do fim da 1ª Grande Guerra. O garoto cresceu e começou a cursar Engenharia Florestal, seus estudos foram interrompidos pela eclosão da 2ª Guerra, da qual a Polônia foi devastada, sendo que 25% de sua população veio a óbito. Preso pela NKVD e com o pai assassinado pela mesma anos antes, Wlodek não desistiu da resistência, sempre se reunindo com outros poloneses para formar agrupamentos militares. 

Durante a guerra ele viajou pelo mundo, esteve no Oriente Médio, na Rússia, na Costa Atlântica da África, na Inglaterra, enfim, ele tornou-se exemplo do que se refere a um mundo globalizado, tendo vivenciado diversas histórias. Estabelece moradia na Polônia pós guerra e termina os estudos, ganha emprego em Bialowieza em 1962, onde foi responsável pelo aumento do número de bisões de 56 para 235. Os bisões europeus já habitaram um território que ia da ilha da Bretanha até a Sibéria e da Escandinávia até o Irã, preciso falar de quais territórios eles habitam hoje?
O bisão olha para a lente do fotógrafo Stefano Unterthiner, mas quem olha para eles?
Wlodek possuia uma visão quase mística da floresta em que vivia e trabalhava, observando daquele local tão distante a degradação da humanidade. Sua visão está registrada em documentários, filmes, entrevistas e livros de autores poloneses e do exterior, ele era responsável pela visita destes a floresta e como possuia uma grande capacidade de se comunicar e expressar seu sentimento sobre o local ele se tornou um símbolo da Bialowieza.

O povo de Bialowieza sempre sofreu, pode-se notar isso ao visitá-la, junto das folhas e galhos secos estão enterrados inúmeros corpos em seu solo, com seus túmulos improvisados feitos de cruzes e pedras toscas. Durante a segunda guerra muitos judeus viveram ali, testemunhando a dificuldade de sobreviver sem comida e moradia, sendo a permanência ali tão precária quanto a dos guetos de Varsóvia. O povo da floresta também passou dificuldades durante a ocupação comunista russa, moradores eram enforcadas diariamente, sabujos empurravam pessoas para a mata fechada. A floresta mais intocada da Europa sobreviveu ao III Reich; ao governo do louco Nikita Khrushchev, que a via como território de diversão assim como os antigos Czares; ao Império Comunista e a sua segadora que limpava diariamente a fronteira do Império com a Polônia, no centro da Bialowieza. Aqui notamos, até mesmo que a mata era persistente e revolucionária, crescendo todos os dias e dando trabalho para não desaparecer. E pensar que Wlodek acompanhou a maior parte desta história de perto.

Para mim, descobrir que Wlodek havia morrido no fim de 2008 foi uma verdadeira tristeza, apesar de ter descoberto quem ele era e ver seu rosto, eu sei agora que nunca falarei com ele (pois espero que o espírito de um velho polonês não venha me atormentar, haha). Sua história é uma mínima parte daquilo que entendemos pela Grande História, mas qual o sentido de estudá-la sem ver estes casos? Que dão vida e sentido a datas, fatos e a processos históricos!

Włodzimierz Pirożnikow (1920-2008)
"O Estado não me interessa, este é o meu Estado, a natureza. Você entende: o estado da natureza"

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