29 de abril de 2012

Final de Tarde



O silêncio cai soturno.
Cai leve, suave, cai brando.
Interrompido por um grito de dor.
O dia escurece, perdendo sua cor.

Escondido em densas brumas.
O medo volta a sua mente.
Ela não resistiu... Choros de lamento!
Roguei pragas, espalhei palavras ao vento.

O melro negro acorda com o sofrimento.
Enquanto Caronte leva mais uma alma.
Ele canta, enquanto peço perdão.

Livrai-me desse pensamento!
Que escurece minha vista, tirando minha calma.
E arrasa com meu coração.


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Com essa poesia fiquei em 2º lugar no concurso da escola. Que nostálgico e que engraçado isso.


8 de abril de 2012

A História, os Vampiros, o meio ambiente e coisas esquecidas.

Lendo livros do RPG (Role-playing game) Vampiro: a Máscara, me deparo constantemente com diversos cenários históricos que são reconstruídos através da ótica vampírica, mas não deixam de contar coisas que realmente aconteceram, envolvendo personalidades marcantes e acontecimentos que não queremos mais lembrar ou insistimos erroneamente em fazê-lo.

Os Tzimisce, ou Demônios, são os mais horrendos vampiros do jogo, pois transformam a pele das pessoas a seu bel-prazer.

Na trama do jogo tudo ganha um tom mais sombrio, sujo e corrupto, ou será que é assim mesmo na vida real? Essa questão percorre meus pensamentos desde jovem e cada vez mais dou atenção ao trechos do livro que abordam a História. É interessante notar como os autores do jogo ficcional introduzem seu mundo no passado que existiu, sem deixá-los sem sentido. Vejamos como eles misturam o clã de vampiros Tzimisce ao mundo da URSS. Trecho retirado do Livro do Clã.

"O Legado Comunista
O Ocidente sempre soube que o Comunismo teve pouca consideração pelos interesses ambientais1, mas o alcance completo deste conhecimento não veio a luz até depois da queda da Cortina de Ferro. A URSS transformou a Bulgária, a Romênia, a Checoslováquia, a Polônia2 e a Alemanha Oriental em pilhas tóxicas. Agora as fábricas cospem enxofre no ar, criando chuva ácida tão potente que priva florestas inteiras de sua folhagem e galhos. Tudo que resta de algumas florestas são varas negras  e montanhas cobertas de névoa sulfúrica. As operações de minar e fundir lançam nuvens de partículas metálicas no ar, afligindo gerações de crianças com uma ampla variedade de doenças pulmonares e inaptidões mentais. Mesmo depois de tudo isso, está muito pior na Romênia, onde a extração de carvão deixa o ar negro graças a Usina de Carvão de Copsa Mica3. Uma grossa camada de fuligem cobre edifícios e árvores, criando uma paisagem destituída de cores. Neva flocos negros durante a noite, partículas de carbono saturam a névoa e as nuvens, manchando todo o céu, e até os carneiros são da cor da noite."
Copsa Mica
"Os ambientalistas denunciam a poluição, mas todos os governos agem muito lentamente. Ambos Tzimisce do Velho Mundo e anciões do Sabá4 encontram suas paisagens antes ricas e orgulhosas se afogando em opressão física e psicológica. O ditador Nicolae Ceausescu5 manteve seu povo fraco e pobre enquanto saqueava o interior em nome da indústria. Agora, ironicamente, a defesa Tzimisce muda, se apenas pela poluição que mancha seus rebanhos6 com câncer e envenenamento, enquanto a chuva ácida destrói a sua partilha de monumentos, incluindo muitas antigas fortalezas nos Cárpatos que os Demônios ainda habitam. O Velho Mundo se esmigalha, literalmente."

Copsa Mica

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Não apenas o Comunismo feriu o meio ambiente, claro. Temos que analisar que naquele período -ou na maior parte dele- as questões ambientais não eram levantadas -não como são hoje- em nenhum lugar do mundo. Porém as marcas deixadas pelo Comunismo foram muito intensas e devidamente lembradas aqui. Alguns autores, como David Drew, escrevem sobre a visão de Marx e outros pensadores sobre o meio ambiente. Eles destacam que o pensamento comunista de apropriação dos recursos naturais como bens para a sociedade legitimam a ação intensa e irracional que os governos do regime exerceram sob seus mandatos.

2 Alguma coisa sobre a luta constante da floresta polonesa de Bialowieza você pode ver em posts feitos no ano passado através dos seguinte links: Wlodek 1 e Wlodek 2. Para mais detalhes, brilhantes detalhes, procure o livro Paisagem e Memória, de Simon Schama.

A cidade de Copsa Mica ficou conhecida como uma das cidades mais poluídas da Europa, e mesmo hoje, décadas após o fechamento de sua usina de carvão, as árvores, casas e carros continuam com a fuligem preta impregnada. A população da cidade caiu para 23% da população que a mesma possuía na década de 80 e a expectativa de vida no local é de 9 anos abaixo da expectativa romena. Outras regiões da antiga URSS sofrem com o pouco preparo e com o tremendo descaso que o governo comunista possuía, crianças bielorrussas até hoje nascem com problemas de saúde graves devido a radiação emitida da Usina de Chernobyl, em Pripyat, Ucrânia.

Organização-seita da qual os Tzimisce fazem parte, em sua maioria.

5 Líder Comunista Romeno entre 1965-1989 (quando morreu executado).

6 Mortais que servem de alimento constante.

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No jogo, a família de vampiros Tzimisce possuem o temido poder de moldar a carne, os ossos, os músculos... Enfim, eles são como escultores de corpos humanos e geralmente a visão de beleza deles é extremamente contestada. Esses poderosos vampiros cuidam de seus rebanhos e os personalizam da forma que bem entendem. A ideia desse poder sobrenatural que foi legado aos Tzimisce pode muito bem ter sido baseado nas graves deformações e mutações ocorridas com desastres e irresponsabilidades industriais. O jogo trás base histórica bem feita que aliada a uma compreensão maior de mundo por parte dos jogadores pode oferecer caminhos e sugestões para deixar o jogo mais interessante e profundo, seja através da perda de dinheiro recuperando mansões nos Cárpatos ou algo mais elaborado que possa passar pela cura ou agravamento das doenças daquela sociedade.

Crianças vítimas da radiação da Usina de Chernobyl, as que não apresentarem modificações na aparência, possivelmente sofrerão de câncer.
Enquanto a população de Copsa Nica parece viver bem e os efeitos da poluição aparentam diminuir, a terra ainda precisará de muito tempo para se recuperar. E desculpe minha senhora... Mas eu não comeria esse milho ai atrás não. 

Mais fotos de Copsa Mica? Clique aqui e aqui.
Um poste mais detalhado sobre Chernobyl virá em breve!

1 de abril de 2012

Abaixo de Zero

Desapareça aqui


Abaixo de Zero é um livro que se desenvolve através de um amontoado de acontecimentos e lembranças da vida de Clay, um jovem muito rico de LA. Clay volta a sua cidade natal após o primeiro ano de faculdade que o manteve distante da família e amigos, é nessas férias que acontece a história do livro, mostrando diversos dilemas e angústias na vida do personagem

A narrativa é muito descritiva e não se tem um foco central, são apenas acontecimentos que ocorrem nas férias de Clay que vão se juntando mais ou menos linearmente. O personagem praticamente vaga pelas passagens e o autor acaba descrevendo muito as cenas, de forma que as coisas pareçam estar sempre acontecendo de forma arrastada, abafada, tediosa... Enfim, parece que os personagens estão sempre buscando diversão, tanto que as drogas e as bebidas tão presentes no conto vão deixando de ser um refúgio e passam a ser apenas um detalhe que trás pouca satisfação.

É muito legal ver a decadência dos personagens, todos muito ricos, mas pouco amados e pouco maduros. Os personagens se drogam, fumam, bebem, transam o tempo todo... Mas isso vai ficando cada vez mais como um plano de fundo, como disse. Essa decadência e o modo natural que os personagens encaram a morte, o sexo, a violência é algo brilhante! A vó de Clay definha pelo câncer e parece que ninguém está se importando; Clay não sabe diferenciar suas irmãs mais novas, que ele nem lembra dos nomes; Uma amiga de Clay vive praticamente sozinha em uma mansão e fica sabendo onde a mãe dela está através de matérias do jornal; o dublê do filme que morreu e o diretor nem ao menos sabia seu nome; o cadáver de um viciado que vira atração turística entre os amigos de Clay; os acidentes de trânsito, as mortes de animais, os carros que despencaram do penhasco... Uma infinidade de mortes, traumas, esquecimentos, friezas, silêncios...

Los Angeles ganhou vida na obra, talvez como nunca antes tenha ganho. O autor toda hora referencia ao leitor onde os personagens se encontravam, onde iam, por que ruas passavam. Ele também dava destaque a cena musical e as marcas, a todo momento havia alguém bebendo tal coisa e com a camiseta de tal banda, em tal bar se encontravam pessoas que ouviam tal música nova, etc.

Sobre Clay, ele é um personagem perdido, vazio, triste... Na história ele vaga por ai e sua única qualidade é  ter mais moral que a maioria dos seus amigos, mas isso não impede que ele seja um deles. Suas viagens de carro, o vento quente do deserto batendo no rosto, os coiotes uivando ao longe, a música saindo das caixas de som, os momentos de contemplação, o pôster do Elvis Costello olhando para a janela, o vale, a apatia e a rebeldia. Tudo será lembrado por mim por um longo tempo.


Quer ler dois trechos da obra? Clique aqui e aqui.

Abaixo de Zero

Lançamento: 1985
Autor: Bret Easton Ellis
Conceito: Muito bom, vale a pena ler.
História: Clay volta a sua cidade natal, Los Angeles, no período de férias da faculdade, suas primeiras férias. Em LA ele revê toda sua rede de amigos e família, quase todos decadentes, drogados, ricos e solitários. A história arrasta Clay por diversos lugares da região, revendo pessoas, lugares e lembrando de momentos da juventude. 
Porque é legal de ler: É uma espiral decadente, ao meio de uma narrativa muito bem descrita e detalhada. Retrata um pouco da década de 80, do mundo dos ricos e do mundo de rebeldia e podridão em que esses jovens entraram.
Melhor Personagem: Não há grandes destaques, todos veem e vão, deixam sua marca, mas é uma marca muito mais coletiva do que individual, destacar um seria o mesmo que destacar todos.
Frase: Desapareça aqui.