1 de novembro de 2011

Trans Europe Express

Imagem da revista Seleções
A revista Seleções é/foi uma das revistas mais lidas do mundo, ela tem origem americana, mas é publicada aqui no Brasil a muito tempo. Eu estava folheando um exemplar de 1967 quando me deparei com uma matéria intitulada "A Elegância Volta aos Trilhos", vou transcrever aqui os trechos mais interessantes onde o escritor fala do renascimento dos trens de passageiros na Europa da época, os famosos TEE (Trans-Europe Express), a partir de uma viagem realizada por seu amigo executivo. Os TEE funcionaram entre 1957 e 1995 e chegaram a fazer viagens por dez países da Europa Ocidental.



Para começar a clássica música do clássico grupo alemão de música eletrônica Kraftwerk!

O texto é carregado de exaltações a modernidade e ao progresso, trazendo imagens idílicas da natureza. O autor inicia constatando que as pessoas não viajam mais de trem, elas preferem os rápidos aviões ou os eficiente carros. Ele ainda acredita que o fascínio das pessoas pelos trens já havia sido perdido, porém ele começa a ver as coisas a partir de outra perspectiva quando escuta uma história de seu amigo, "um corretor de bôlsa típico da era do jato, que pràticamente faz viagens diárias entre os Estados Unidos e a Europa." Entre parênteses estão comentários meus.

"Era um dia cinzento de inverno e o porteiro do hotel sugeriu que êle (o amigo dele, o tal corretor) tomasse um trem. Havia 10 anos que o meu amigo não viajava num trem europeu, e enquanto se dirigia para a Gare du Nord já estava arrependido da decisão que tomara. A perspectiva de uma longa viagem aos solavancos, em um compartimento empoeirado e cheio de gente descascando laranjas, era coisa que êle achava que não devia ter-se metido."

Gare du Nord
"Não poderia estar mais enganado. A primeira indicação que teve foram as pessoas. Pareciam passageiros de jato (!). Caminhando apressadamente pela plataforma havia mulheres com casacos de leopardos, cavalheiros com pastas de couro de crocodilo. Depois o próprio trem. Os vagões, de um vermelho brilhante, estendiam-se pelos trilhos como um dragão rutilante."

"O trem pôs-se em movimento. Suavemente. Sem ruído. Em poucos minutos corria a 145 km/h, através da paisagem plana do Norte da França (em direção a Bruxelas, na Bélgica). Não se ouvia o ruído característico das rodas; os trilhos tinham sido soldados nas junções, ..., o trem além de ter ar condicionado, era à prova de som." (!!)

Ciclistas do Tour de France percorrendo o norte francês.

"Acomodando-se, êle (o amigo) apertou um botão para ajustar a poltrona. Um outro botão fês subir a veneziana entre as duas imaculadas janelas de vidro (Meu Deus, que descrição!). Nevava lá fora, mas no interior do trem estava extremamente agradável - nada parecido com aquêle compartimento barulhento e pobre que êle esperara." (Soa como uma propaganda para o TEE, não é? Mas também é propaganda para os brasileiros, é o sonho do luxo europeu)

"Quanto as cascas de laranja, ..., foi-lhe apresentado um menu. Êle pediu alcachôfras ao vinaigrette, um tournedos béarnaise, champignons, pomes soufflées e uma salada - tudo regado com uma garrafa de St.Emilion."

TEE clássico, pintado de vermelho e creme.

Logo em seguida são destacados a eficiência do transporte, que não parava na fronteira do país, pois havia fiscalização e funcionários da alfândega dentro do veículo e trabalhavam durante a curta viagem. O amigo do escritor chegou a Bruxelas depois de 2 horas e meia (hoje de carro tu faz o trajeto em mais de 3 horas), percorrendo 300 km e gastando 60,90 francos franceses (nem imagino o quanto isso vale hoje). 

"Os telefones são equipamento-padrão. Há pouco tempo um passageiro que viajava pela Baviera levou quatro minutos e meio para fazer uma ligação telefônica (!!!!!) com Los Angeles, Califórnia."

O autor começa a destacar alguns empecilhos, como viagens muito longas não são tão bem vistas e outros problemas internos e decisões unilaterais. Até que ele volta a elogiar o serviço com a seguinte frase: "Mesmo com uma coordenação tão limitada, o TEE cresceu como uma tulipa na primavera" lol

Por fim, o próprio autor relata sua experiência com a companhia de viagens, ele comprou um ticket que deu permissão de viajar por uma temporada de forma ilimitada, até parece propaganda de celular né não? Nessas  andanças pela Europa de trem - que inveja - ele faz odes aos locais conhecidos e as pessoas e trabalhadores fantásticos que conheceu e destaca que assim como o TEE europeu, ideias semelhantes começam a retomar as velhas ferrovias, tanto no Japão quanto no Canadá, e até nos Estados Unidos...

Capa do disco do Kraftwerk, que sempre utilizou elementos da modernidade em suas canções, no primórdio da música eletrônica.

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