5 de outubro de 2011

Saint Hilaire em Santa Maria

Saint Hilaire (1779-1853) nasceu em 4 de Outubro na cidade de Orleans, França, e ontem estava comemorando seu "aniversário" de 232 anos! O botânico francês passou pelo Brasil durante o século XIX e não deixou de visitar o Rio Grande do Sul e claro... Santa Maria, na época chamada de Capela de Santa Maria,  um vilarejo entre as Missões Jesuíticas e o Porto de Rio Grande. Em 1801 a Capela de Santa Maria deixa de ser um acampamento militar português e ganha papel mais importante, até então era local estratégico contra as forças espanholas de São Marinho da Serra, logo acima dos morros.


Olhem que legal o trecho de seu livro que revela sua visão de natureza e as características da cidade de Santa Maria em seus primórdios.

"Esta aldeia, geralmente chamada Capela de Santa Maria, situa-se em posição bucólica, a meio quarto de légua da Serra. É construída sobre colina muito irregular. De um lado, avista-se alegre planície, cheia de pastagens e bosquetes e, do outro lado, a vista é limitada por montanhas cobertas de espessas e sombrias florestas. A Aldeia compõe-se atualmente de cerca de 30 casas, que formam um par de ruas, onde existem várias lojas, muito bem montadas. A capela, muito pequena, fica numa praça, ainda em projeto."
Saint Hilaire, 1821.

Tio Google visitou a cidade em 2011, registrando a característica ainda presente na região.


O interessante do relato dele sobre a cidade é que ele expressa de forma clara, rápida e completa a visão do europeu sobre a natureza, esta visão predominou desde a Idade Medieval até fins de século XIX, só sendo quebrada de forma mais intensa a partir de 1960 (e ainda existe muitos resquícios). O adjetivo para a planície (o Pampa) é "alegre" e revela o domínio do homem sobre a natureza, de forma a criar pastagens, que seriam produtivas e benéficas a sociedade. Santa Maria foi fundada em uma zona ecótone, a fronteira do Pampa com a Mata Atlântica. Esta última foi devastada desde os primeiros anos de colonização européia, e Saint Hilaire empregou sobre ela uma visão bem comum para a época, adjetivando-a de forma pejorativa como "sombria", localizada sobre uma "montanha" que barrava o campo de visão e era coberta de espessas florestas. Ao adjetivar cada bioma de uma maneira, o viajante estava pondo em prática todo o pensamento europeu que se solidificou por séculos, que acreditava que a natureza deveria ser domada e conquistada.

As florestas sombrias, locais de marginais e criaturas fantásticas se uniam as Montanhas que impediam viagens mais rápidas e eram moradia de "selvagens", as duas pouco importavam para a sociedade, que vivia no (e do) campo.

2 comentários:

  1. Adorei é muito legal saber como as pessoas enxergavam a região e relacionar isso com a visão da época e a de hoje!Parabéns João!!

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  2. Valeu!
    Eu simplesmente adoro isso. Estou lendo outros relatos antigos sobre a cidade e eles também são encantadores!

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